quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Metade

Que a forca do medo que tenho, não me impeça de ver o que anseio.
Que a morte de tudo que acredito não me tape os ouvidos e a boca.
Por que metade de mim e o que grito, mas a outra metade e silencio.
Que a música que ouço ao longe seja linda ainda que tristeza.
Que a mulher que amo seja pra sempre amada mesmo que distante.
Por que metade de mim e partida e a outra metade e saudade.
Que as palavras que eu falo não sejam ouvidas como prece, nem repetidas com fervor.
Apenas respeitadas, como a única coisa que resta a um homem inundado de sentimento.
Por que metade de mim e o que ouço e a outra metade e o que calo.
Que essa minha vontade de ir embora se transforme na calma e na paz que eu mereço.
Que essa tensão que me corrói por dentro seja um dia recompensada.
Por que metade de mim e o que penso e a outra metade e um vulcão.
Que o medo da solidão se afaste.
Que o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável.
Que o espelho reflita em meu rosto um doce sorriso que me lembro ter dado na infância
Por que metade de mim e a lembrança do que fui e a outra metade eu não sei.
Que não seja preciso mais do que uma simples alegria pra me fazer aquietar o espírito
E que teu silêncio me fale cada vez mais.
Por que metade de mim e abrigo e a outra metade e cansaço
Que a arte nos aponte uma resposta mesmo que ela não saiba
E que ninguém a tente complicar por que e preciso simplicidade pra fazê-la florescer
Por que metade de mim e platéia e a outra metade e canção
E que minha loucura seja perdoada.
Por que metade de mim e amor
E a outra metade... também


(Oswaldo Montenegro)

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